São várias as consequências provocadas pela paragem brutal das atividades humanas, durante o período de confinamento. Essas consequências refletem-se na economia e, consequentemente, nas cidades, nos transportes aéreos, marítimos e rodoviários, com efeitos na redução dos níveis de poluição atmosférica e sonora das grandes áreas metropolitanas:
- Queda abrupta das vendas de automóveis com motores de combustão interna, com os veículos elétricos a mostrarem grande resiliência;
- Paragem quase total da aviação comercial, com cerca de 90% dos aviões em terra;
- Paragem dos navios de cruzeiro;
- Redução em cerca de 80% de todos os transportes rodoviários;
- Interrupção da atividade industrial em cerca de 50%;
- Queda brutal do consumo de bens não essenciais.
Esta travagem brusca de toda a economia mundial, com mais de mil milhões de seres humanos recolhidos nas suas casas, também permitiu que a fauna e a flora avançassem para terrenos antes ocupados pelos humanos.
O retorno da Natureza
Não são só os patos, as ovelhas, os javalis e os peixes. Recentemente, registou-se a presença urbana de ursos, cangurus, pinguins, pumas, coiotes e muitas outras espécies.
Todos pudemos confirmar como o ar está mais limpo. Quando não existem nuvens é notória a vivacidade do azul do céu, ou à noite a visibilidade das estrelas. As cores, em geral, estão mais vivas. O silêncio das cidades só foi quebrado pelo constante chilrear dos pássaros um pouco por todo o lado. Temos tido mais tempo para refletir sobre o caminho que nos trouxe até aqui. Deparámo-nos com uma sociedade profundamente desigual, injusta, com ênfase no fútil, no efémero, no descartável, na perda de valores e na ganância pelo lucro fácil.
De repente, constatámos que as nossas vidas não dependem dos comentadores desportivos, das telenovelas, dos programas de debate sem fim e sem sentido e da publicidade compulsiva para despertar o consumo desnecessário. Começamos a dar mais importância aos serviços de saúde, alimentação e bens essenciais.
Percebemos que todos estes profissionais são importantes: médicos, enfermeiros, serviços de limpeza nos hospitais, serviços de limpeza urbana, funcionários dos supermercados e das mercearias de bairro, funcionários das farmácias, agentes de segurança, motoristas, professores e restantes funcionários das escolas, colégios e universidades, investigadores, cientistas e tantos outros que nos permitem continuar a ter eletricidade, água, gás e telecomunicações nas nossas casas.
Sendo uma situação insustentável, ela permite-nos pensar no futuro. Em que sociedade vamos querer viver, e o que podemos fazer para participar nessa mudança?
A poluição atmosférica e o Covid-19
Há vários estudos que têm sido divulgados que relacionam a maior incidência dos casos de covid-19 com a poluição atmosférica.
Face à comprovação inequívoca de que a redução drástica do tráfego urbano rodoviário e aéreo melhorou a qualidade do ar, pudemos antecipar o que seriam as cidades exclusivamente com meios de transporte elétricos, como carros, motas e autocarros.
As cidades seriam silenciosas, com menos poluição atmosférica e com muito menos tráfego, fruto das várias soluções de teletrabalho e de tele-ensino que todos estamos a viver. O que pouparíamos em viagens e em tempo desperdiçado? E aqui falamos também de reuniões internacionais das empresas mas também das instituições. Quantas toneladas de CO2 seriam evitadas? Quanto tempo nos sobraria para mais trabalho, mas também para mais lazer e mais família?
Terra 2.0
Os atuais utilizadores de veículos elétricos carros ou motas que tenham a possibilidade de carregá-lo na própria residência não estão expostos à necessidade que os proprietários de veículos com motor de combustão interna têm de se abastecer em postos públicos de combustíveis.
É necessária a eletrificação de todos os meios de transporte rodoviário e dar prioridade à rede ferroviária elétrica e de alta velocidade para viagens continentais em detrimento das viagens aéreas altamente poluentes, que ficariam reservadas para os percursos intercontinentais. As verbas destinadas às grandes obras em aeroportos devem ser canalizadas, de imediato, para a infraestrutura ferroviária de alta velocidade. Não tenhamos ilusões que a atividade aérea não voltará a ser o que foi até por motivos de saúde pública.
Localmente, as autarquias devem avançar para a eletrificação das suas redes de transportes públicos, ou quando essas redes forem privadas avançarem com prazos para a sua efetivação pelas empresas concessionárias.
No âmbito nacional, os incentivos à aquisição de veículos elétricos, através do Fundo Ambiental, devem satisfazer todas as candidaturas dos particulares, cuja dotação se tem esgotado antes do final de cada ano. No caso das empresas, devem manter a atual dotação, pois além deste incentivo ainda beneficiam do reembolso do IVA e de isenção da tributação autónoma.
Devem ser fomentados todos os projetos e iniciativas para o fabrico de veículos elétricos em Portugal, bem como de fábricas de baterias, para veículos elétricos.
Toda a produção de eletricidade verde através de painéis fotovoltaicos, parques eólicos e geotérmicos deve ser incentivada e desburocratizada, quer para particulares com auto consumo em casa e no veículo elétrico, quer a nível empresarial.
O acesso aos centros das grandes cidades deve ser restringido. Lisboa já aprovou restrições aos veículos com motores de combustão interna, quer sejam a gasóleo ou gasolina, para garantir a qualidade do ar aos seus habitantes, trabalhadores e visitantes.
Vamos acelerar o cumprimento dos objetivos dos acordos, dos programas e das diretivas com as quais o governo português se tem comprometido:
- Acordo de Paris – COP21 (2015)
- Roteiro para a Neutralidade Carbónica – RNC2050 (2017)
- Pacto Ecológico Europeu – Green Deal (2019)
Este Coronavírus, o SarsCov2, que provoca esta doença pandémica, a Covid-19, pode servir-nos como alerta e aviso para o caminho que toda a Humanidade está a seguir. Aproveitemos esta época de enorme privação como uma oportunidade para avançarmos para um reinício, e mudarmos comportamentos com opções mais sustentáveis. Está nas mãos de cada um de nós fazê-lo! Vamos reiniciar?
Por uma TERRA 2.0!
Pela eletrificação de todos os meios de transporte!
Por cidades mais amigas das pessoas e do ambiente!
Pela descarbonização da economia!
Por uma economia mais sustentável!
Pela nossa saúde!
Por um futuro para os nossos filhos!
Não existe um planeta B!
Henrique Sánchez
Presidente da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos